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Usina da Dança

Coordenadora Artística da Usina da Dança visita Reggio Emilia

Coordenadora Artística da Usina da Dança visita Reggio Emilia

A coordenadora artística da Usina da Dança, Valeria Pazeto, viajou a Reggio Emília, na Itália em fevereiro, para participar do Grupo de Estudos da América Latina para Reggio Emília. A reunião tratou sobre o tema A Cultura do Ateliê.

A ideia central da proposta de Reggio enfatiza a criança criativa, que aprende através da escuta, investigação, observação e exploração.

Para Loris Malaguzzi, pedagogo e estudioso da Infância, o ateliê tem o intuito de revolucionar o ensino e a aprendizagem nas escolas destinadas às crianças pequenas.

As produções das crianças, suas falas, seus gestos, alimentam a reflexão, e a máquina fotográfica, o caderno e a filmadora estão sempre à mão para registrar o processo de aprendizagem.

Parte dessa documentação é apresentada aos pais em reuniões ou outros eventos. Também alimenta a reflexão docente. A documentação educativa é um patrimônio da escola e estrutura as teorias educativas e didáticas permitindo a discussão permanente da prática.

Um projeto nunca é igual ao outro e não pode ser replicado. “Nosso desafio, é compreender a concepção da abordagem educativa de Reggio Emilia, pensar em como adaptá-la à nossa realidade e colocar em prática o que ela tem de melhor.”, destaca Valeria Pazeto.

A Escola de Loris Malaguzzi
Por Valeria Pazeto

Após o término da Segunda Guerra Mundial, as mulheres de Villa Cella, cidade no nordeste da Itália, próxima a cidade Reggio Emilia, se encontravam em um cenário de escombros e destruição e junto a isso viam a grande necessidade de recomeçar suas vidas. Decidiram então que a melhor forma de reconstruir o tecido social, cultural e político da comunidade seria o caminho de construir uma escola para crianças com as próprias mãos.

Da necessidade do cuidado dos pequenos, vislumbrou-se o cuidado da cidade inteira. Um jovem pedagogo, chamado Loris Malaguzzi, inspirado pelas ideias novas de Jean Piaget, Lev Vygotsky, John Dewey e Maria Montessori juntou-se a este movimento que surgia, estava certo de que o processo pedagógico deveria ter como centro o desenvolvimento intelectual, emocional, social e moral das crianças.

Começou assim o processo de construção da rede de escolas infantis e creches de Reggio Emilia.

Universalmente conhecida pela abordagem pedagógica para a educação infantil, tem como princípio um ensino em que não existam as disciplinas formais e que todas as atividades pedagógicas se desenvolvam por meio de projetos. Estes projetos, no entanto, não são antecipadamente planejados pelos professores, mas, surgem através das ideias dos próprios alunos, e são desenvolvidos por meio de diferentes linguagens.

O ensinamento que sustenta todo esse princípio é a Pedagogia da Escuta, que foi sistematizada pelo educador italiano. Esta abordagem de Reggio Emilia se vincula a tudo o que a linguagem visual pode apresentar.

A capacidade criadora e a característica dos trabalhos desenvolvidos fizeram com que esta atitude típica de educar fosse avaliada, há dez anos, como a melhor do mundo pela revista norte-americana Newsweek. Este exemplo, serviu de fonte de apoio e inspiração para a Educação Infantil de países de contextos bem diferentes como Suécia e Senegal, Dinamarca e Nova Zelândia, Espanha e Estados Unidos.

A- As crianças podem compartilhar seus conhecimentos e saberes, sua criatividade e imaginação por meio de múltiplas linguagens, sem enfatizar nenhuma. As múltiplas linguagens se evidenciam através do desenho, do canto, da dança, da pintura, da interpretação, enfim, divulgadas por distintas passagens que se somam na execução do projeto e nos saberes que são construídos. Anotar, fotografar, gravar e filmar são partes principais da rotina.

B- O mundo de conhecimentos não está dividido em assuntos escolares, mas é um grupo único, onde certas áreas são sugeridas por meio de projetos com uma matéria de trabalho.

C- A interação entre o adulto e a criança deve ser uma parceria, na qual interesses e envolvimentos recíprocos devem permanecer e interagir para que um objetivo comum seja alcançado: o saber.

As escolas em Reggio Emilia têm na arte a ferramenta para o pensamento. São escolas feitas de espaços, onde as mãos e mentes das crianças se entrelaçam em uma alegria criativa e libertadora, através de uma aprendizagem real.

Assim é possível constatar como a criança argumenta e se expressa, o que produz com suas mãos, como brinca, como debate ideias e como sua investigação funciona. O plano é inserido como um desafio e envolve
conhecimento de exploração e discussão em grupo.

Após esta primeira fase, há representação e expressão, através do uso de meios peculiares: desenho, movimento, jogos, construção com materiais que abrangem a Arte e a estética, que são partes essenciais da maneira como a criança compreende e concebe o mundo. Há um respeito muito grande pelas ideias das crianças nas suas variadas demonstrações, identificando esse trabalho na perspectiva de um pesquisador.

As palavras comuns entre os professores de Reggio Emilia, são “cívico” e “civil”. Dizem e acreditam que a criança tem direito à civilidade, à civilização e à vida cívica. Afirmam que uma criança habilidosa produz
transformação nos sistemas em que está vinculada e torna-se uma elaboradora de cultura, valores e direitos.

Os educadores promovem os processos de aprendizagem cooperativos e o trabalho em conjunto. Na comunidade de aprendizes, todos os partícipes são ativos: ninguém possui responsabilidade total.

A finalidade é interdependência em lugar de independência, e o pensar “com os outros” em lugar de “por si mesmo”, isso envolve cidadania e significa basicamente compartilhar e tornar-se protagonista na sociedade.

A sociedade cívica abrange o significado de identidade das pessoas, ampliando o conceito do “eu” em “nós”.

O modelo pedagógico deu tão certo que acabou sendo municipalizado e hoje engloba 40% das escolas da cidade.

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