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É bom fazer o bem

Coordenadora do Polo Guri IORM Miguelópolis conta sobre sua participação na Expedição para a Estrada da Fome

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Rubiane Tahaci Sandoval, que coordena o Polo Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça –  IORM, Miguelópolis do Projeto Guri compartilha sua vivência como participante da Expedição de mais de 8.500 quilômetros entre Ribeirão Preto e a Amazônia Legal. Ela foi uma observadora atenta e sensível que ouviu os moradores das cidades ao longo da Estrada da Fome e faz um relato pungente da realidade desses brasileiros.

Rubiane é Educadora, Administradora, Especialista em Controladoria, Auditoria, Perícia Contábil e Gestão Pública.

“Essa qualidade de sensibilizar-se com a dor alheia e de se enxergar como agente para a transformação do mundo é um dos atributos que nós, do IORM, consideramos essencial a todos aqueles que trabalham conosco. É essa visão que queremos compartilhar. Ela é muito importante para os projetos que realizamos”, afirma a coordenadora do Conselho do IORM, Maria Inês Marcório Guedes Moreira de Carvalho, que convidou Rubiane para dar seu testemunho sobre a Expedição. Acompanhe.

“Desde pequena vi meus pais atuando em ações beneficentes para creches, escolas, lar de idosos e abrigo de animais, mas somente em 2005, quando ingressei no Programa de Educação para o Trabalho, o PET, desenvolvido pelo Senac com patrocínio da Usina Colorado , aprendi o que o protagonismo social quer dizer de verdade.

Exemplos como o da Valéria Pazeto, coordenadora artística do IORM, da Maria Inês Marcório Guedes Moreira de Carvalho, coordenadora do Conselho do Instituto e da própria Josimara Ribeiro de Mendonça, fundadora do IORM me fizeram despertar a vontade de fazer mais e de ser a diferença que eu gostaria de ver no mundo e nas pessoas.

Então, em 2015, veio a oportunidade de participar da Expedição  pela Estrada da Fome, percorrendo mais de 8.500km de Ribeirão Preto à Belágua, Sena, Café da Linha e Lagoa Grande, no interior do Maranhão,  onde estão os cinco municípios mais pobres e com maiores índices de morte causadas por desnutrição do Brasil e chegamos à Amazônia Legal, para levar remédios, alimento, carinho, dignidade, uma palavra amiga e fé para pessoas que foram há muito tempo abandonadas e esquecidas.

Nessa viagem pegamos várias estradas de terra, percorremos distâncias enormes a pé carregando mochilas com remédios e alimento para vilarejos e aldeias. Dormimos em redes, no chão, na van, e ouvimos histórias incríveis de garra, força e coragem.

Entre as histórias que mais me marcaram está a de dona Francisca, que nos ofereceu água, farinha e açúcar quando chegamos a sua casa. Esses eram seusúnicos alimentos. Ela nos disse que ela e as crianças comeriam palma, pois já estavam acostumados, e chorou dizendo que as roupas, comida, remédios que levamos eram resposta de Deus para as noites em que ela ficava de joelhos chorando depois que as crianças dormiam.

Dona Francisca vive o município de Café da Linha. A cidade tem um cemitério somente de crianças. Lá eles  enterram os bebês que morrem de fome e os que são abortados pelas mães, devido ao desespero de não saber como alimentar mais uma boca. Ouvi o choro das famílias que, muitas vezes, optam por entregar seus filhos ou vendê-los para estranhos nas estradas e rodovias para que tenham uma chance de viver melhor. Na aldeia de Cacimba Quebrada vimos crianças índias casadas e com vários filhos antes de completar 17 anos.

“…cada um tem sua história e sua dor, mas todos precisamos de respeito, oportunidade e aceitação.”

Mais do que impactar, essas histórias e vivências mudaram minha forma de ver o mundo e as pessoas e me proporcionaram um olhar mais amoroso, acolhedor e livre de julgamentos ao entender que cada um tem sua história e sua dor, mas todos precisamos de respeito, oportunidade e aceitação.

Por esse motivo até hoje, com o Projeto Guri, atuo no setor social promovendo protagonismo, acolhimento e mudança de vida através da arte e da música e acreditando que mesmo minha contribuição sendo somente uma gota dentro do oceano, ele seria menor caso eu me omitisse.”

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