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Todo o sistema e componentes que regem nosso mundo contemporâneo fazem parte de um ciclo, onde cada qual exerce uma função de igual importância e onde todos executam suas tarefas cotidianas com base em um termo comum: o movimento. Porque, entre as mais variadas justificativas (econômicas ou sociais), não podemos parar. Analogamente a uma coreografia composta por mais de 7 bilhões de pessoas, nosso planeta “dança” todos os dias através de passos ensaiados, com ritmo e sincronia.

Entretanto, como também pode acontecer em uma apresentação artística, a sociedade passa por intempéries que atrapalham essa harmonia e continuidade e, frequentemente, interrompem a música. O que acontece é que não conseguimos prevê-las. E, com certeza, quando comemorávamos o réveillon para o início desse novo ano de 2020, não desejávamos que uma pandemia interrompesse nossa dança.

Em meados de março, a rápida proliferação da COVID-19, despertou a preocupação do Brasil. Assim, grande parte das atividades sociais foram suspensas, com o objetivo de evitar aglomerações e minimizar o contágio pela prevenção. Isso também chegou a nós do Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça, primeiramente através do cancelamento das aulas presenciais para os assistidos, desde o dia 23 de março, e depois das atividades presenciais para todos os funcionários a partir do dia 1º de abril, efetuando o isolamento residencial.

Toda essa situação gerou a necessidade urgente de elaboração, por parte de toda equipe artística, administrativa e psicossocial unida, de novas formas e caminhos que dariam continuidade aos trabalhos programados. Assim, a proposta mobilizou os profissionais para a construção de um fio invisível que possibilitasse o alcance do maior objetivo do IORM: a ligação das crianças e suas famílias à instituição.

Então, para este momento de pandemia, o processo foi exaustivamente pensado para harmonizar todos os alunos (novos e antigos), tentando evitar furos no isolamento social: utilizando-se das tecnologias atuais mais acessíveis às pessoas envolvidas dentro do IORM (o WhatsApp em telefones celulares), foram gravados, pelos próprios professores, vídeos curtos de até 3min, com exercícios abrangendo todas as modalidades artísticas ofertadas pela Usina da Dança (ballet, jazz, contemporâneo, música, expressão corporal, convivência e literatura), de forma a manter o contato entre aluno-professor e família-instituição, virtualmente. Esses vídeos seriam compartilhados nos grupos de WhatsApp dos responsáveis, pelas secretárias correspondentes, entre as quatro cidades (Orlândia, Ipuã, Guaíra e Miguelópolis), dando também a oportunidade dos alunos conhecerem outros professores e suas aulas. Esta foi a maneira encontrada de, em meio a Pausa do Mundo, promovermos o Movimento do Corpo e descobrir que, “mesmo na pausa existe movimento”.

Além disso, todos os detalhes foram refletidos em busca das melhores soluções: exercícios lúdicos para não machucar as crianças, pois não estamos vendo as atividades, de forma que elas possam entender e desenvolver os passos; como interagir com as pessoas e o ambiente da casa, fazendo com que o isolamento residencial não crie “bolhas individuais” isolando as pessoas dentro da mesma casa e, pelo contrário, integre as famílias; como facilitar o acesso ao conteúdo proposto, sem acabar como pacote de dados das famílias (nem todas possuem wi-fi) ou solicitar material que não possam comprar (por isso o formato de até 3 min dos vídeos); também como integrar o serviço social com as fábulas apoiados nesta criação pela equipe artística; e pensado em como fazermos a avaliação dessas atividades virtuais para prestação de contas.

Sobre este último item, algumas sugestões surgiram e com elas alguns impasses: “Imaginem na avaliação, os professores de cada modalidade dos grupos receberem 120 vídeos de retorno, correspondente a quantidade de alunos? Multipliquem pelas modalidades e imaginem quem está atuando em 4 cidades? Seria inviável.

Assim, surgiu a ideia das “agendinhas” um diário, onde cada criança deverá escrever e/ou desenhar sobre esse período dia a dia das postagens de atividades online para acompanharmos o cronograma das postagens com os relatos do diário, devido a pandemia. Essas agendas serão recolhidas e discutidas quando voltarem as aulas presenciais. Nesses diários, os alunos devem expor seus sentimentos, facilidades e dificuldades para executar cada exercício, abrangendo 3 aspectos: a utilização dos espaços da casa, a integração com a família e a dita execução das atividades por escrito ou por desenho (quem ainda não domina a escrita).

Outra questão também foi abordada e desenvolvida: o “home office” para os professores e funcionários poderem trabalhar em suas casas, sem prejudicar seus salários. Dessa forma, foram propostas atividades de pesquisa sobre a pedagogia utilizada dentro do IORM (seus 4 eixos principais – Intertransdisciplinariedade, Arte-educação, Educação somática e Teoria da Complexidade – e propostas humanistas que priorizem o caminho do movimento em detrimento da mera reprodução, como a metodologia de Ivaldo Bertazzo); a elaboração teórica dos planos de curso para cada modalidade artística dentro da Usina da Dança embasados nas pesquisas realizadas; o desenvolvimento dos relatórios mensais e também a organização da lista de presença virtual de cada professor (o sponte).
Por tudo isso, é importante refletirmos também os pontos positivos dentro desta crise que vem assolando o mundo todo. A arte vem como um refúgio de sanidade em tempos tão difíceis e o ser humano, felizmente de forma maioritária, desperta mais intensamente em si sentimentos de fraternidade e solidariedade. Percebemos, sobretudo nesse período, a interdependência existente entre nós, como uma teia gigante que forma nossa sociedade, onde cada fio compõe um projeto maior, mas todo, sem exceção, tem uma importância única. Assim, pretendemos trazer essas questões para dentro do nosso projeto não apenas hoje, mas sempre, valorizando o trabalho em equipe, respeitando as diferenças e integrando todos nesses processos humanizados capazes de gerar transformações pessoais e coletivas.

Não podemos deixar que o isolamento descarte a união, pois apenas juntos conseguiremos superar tudo isso. Todos os vídeos estão disponíveis em nossa página do facebook do Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça e Boletim Atitude. Valéria Pazeto e equipe UD _ IORM – Abril de 2020.

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