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Projeto Agenda Cultural traz para Guaíra a Exposição Poética do Resíduo II – Panorama

Está aberta para visitação pública até o dia 20 de dezembro, a Exposição Poética do Resíduo II – Panorama, do artista plástico André Costa, na Sala de cinema Cinergia, anexa ao Centro Cultural Colorado, em Guaíra.

A mostra dá sequência à Exposição Poética do Resíduo I – Pesquisa, realizada pelo Ministério da Cultura e Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça – IORM, em agosto.

A Exposição é parte do Projeto Agenda Cultural e sua permanência nesse espaço coincidirá com a apresentação do Espetáculo, O Pequeno Príncipe, que ocorrerá no dia 7 de dezembro, no Grêmio Recreativo Poliesportivo Colorado.

As obras são constituídas por materiais que o artista recolhe nas indústrias gráficas e de comunicação visual. Seu trabalho são obras urbanas, de um colorido intenso. De seu ateliê em Ribeirão Preto, o artista já têm espaço cativo em galerias de Nova York, Barcelona e Dubai.

A principal matéria prima do trabalho de André Costa, o vinil adesivo, tem em sua composição solventes e silicone. Material que, na maioria das vezes, vai para o lixo por não ser reciclável. Não nas mãos do artista. “Minha solução para este problema ambiental é o uso artístico deste material”, explica Costa.

A Exposição tem a curadoria de Evandro Nicolau, artista plástico, professor de artes, tendo chefiado a Divisão técnico Científica de Educação e Arte do Museu de Arte Contemporânea da USP. Curador é o responsável pela concepção das obras de arte, montagem e supervisão da exposição, responsável também pela execução e revisão do catálogo da exposição.

Ficha Técnica Exposição “A Poética do Resíduo”:
Proponente: Terra Produções Culturais
Coordenação Geral e executiva: André Luiz Costa da Silva
Preparo do Espaço: Reinaldo Romero
Coordenação e Produção local: Terra Produções Culturais
Coordenação Pedagógica: André Luiz Costa da Silva
Montagem e Desmontagem: Terra Produções Culturais

Mais sobre a exposição:

Curador fala sobre a Exposição Poética do Resíduo

Forma e cor ocupam um ambiente, um espaço que representa uma atmosfera de calor tropical, porém, a paisagem não é a da Baía da Guanabara. A paisagem é uma narrativa do interior de São Paulo, de uma cidade que no século XXI tem ares de metrópole regional, da economia e da cultura. Trata-se de uma cidade de luz intensa, de clima abafado, em um contexto urbano quente e agitado, movimentado pelas formas diversas de consumo e da ênfase na imagem, no consumo, na diversão e no universo do simbólico dos produtos à venda.

É o poder da publicidade disseminada na proliferação dos signos. É nesse contexto que André Costa produz sua narrativa visual contemporânea, é no calor e na pungência da economia de Ribeirão Preto e região que sua arte floresce e prospera. Seu trabalho insurge no cenário local, que expande para o regional e salta para uma inserção global como uma contra argumentação visual necessária, pela via da arte, a avalanche do capital, amoral e acrítico, que caracteriza a prosperidade consumista da outrora chamada “Califórnia Brasileira”. O mundo do consumo inebria e supre vazios existenciais, ajudando a superar a depressão da vida cotidiana, entretanto, somente consumir, na forma generalista do mercado, orientado pela publicidade e propaganda, não é suficiente. O ser humano precisa de arte, do espaço aberto pelo simbólico, das histórias, da tensão entre identidade e alteridade para seu avanço, como grupo social, em uma dialética. Toda sociedade de sucesso se constitui a partir de um sistema de símbolos e suas formas de arte como expressão de identidade. O ápice do sucesso de uma sociedade se mede pela proliferação de suas formas simbólicas e a arte é a ponta do iceberg das relações humanas e de sua percepção estética. Cabe aqui a concepção e a compreensão da arte como trabalho, como esforço de perceber o mundo, pela mente do artista, e transformá-lo em uma leitura aprofundada da realidade e de suas maneiras de existência enquanto cultura. Portanto, entender a arte, pelo prisma do senso comum, que atribui ao artista a esfera da genialidade, como se esforço e de trabalho não pertencessem a esta atividade humana, não cabe na reflexão sobre o trabalho de André Costa. Ao contrário, André tem com a arte uma relação de trabalho profunda, de profissão, de empreendedorismo, e sua carreira mostra que ele é um artista que entendeu que a construção de um universo cultural insurge num determinado lugar e passa a se constituir como identidade na ação de organizar múltiplas referências simbólicas. Hoje, com uma carreira de artista já amadurecida, as obras de André Costa transcendem não só as fronteiras regionais de Ribeirão Preto, mas as fronteiras nacionais, ao inserir seu trabalho no mercado americano, na Meca das artes globais, que é Nova York, além de Barcelona e Dubai nos Emirados Árabes. O interessante dessa trajetória é que a obra de André vai ganhando projeção e reconhecimento sem que o artista tenha que ter se mudado de sua cidade, e vai também sendo expressão da cidade de Ribeirão Preto como exportadora de cultura. Isso é muito relevante e deve ser percebido como resultado de uma série de fatores de desenvolvimento social produzido pela prosperidade da economia local.

O trabalho desse artista, que tem mais de vinte anos de carreira, é marcado pela sua dedicação a cultura e a educação, como base para sua criatividade. André Costa é um empreendedor cultural que vai construindo sua trajetória de sucesso entendendo muito bem o jogo do mercado, aliado ao contexto regional de sucesso da economia e do agronegócio da região de Ribeirão Preto. André é fruto desse cenário, e esse cenário se torna tão mais relevante quando há a existência de um artista que como ele rompe fronteiras e torna visível a sua obra como o fiel da balança de um patrimônio cultural vivo e produzido na contemporaneidade de sua existência. O trabalho de André narra o aqui e agora do contexto social e econômico de Ribeirão Preto em diálogo com o mercado global da arte contemporânea.

Pois bem, é nesse contexto econômico do agronegócio, associado a prestação de serviços, em especial de consumo de diversão e de lazer, presente em lojas, em shoppings centers e nas marcas de moda, em que o tipo de comunicação visual cujo veículo é a publicidade, que a poética de André se apresenta. André Costa capta essa relação cultural e lança mão de materiais e formas, na elaboração espacial de seu trabalho, que se utiliza da mesma técnica e tecnologia de produção da comunicação visual e da indústria gráfica, na feitura de sua obra.

Nesse aspecto, a fatura resultante dessa elaboração, como obra de arte, tem sua originalidade na subversão da materialidade industrial. Seu desenho e sua narrativa encontra um vínculo e apresenta interfaces que favorecem um encontro de muitas ciências. É um trabalho interdisciplinar, em que se sobrepõem as técnicas de produção de imagens digitais, com as possibilidades de impressão, com o pensamento arquitetônico para a ocupação do espaço e por fim, por uma antropologia urbana composta por imagens criadas pelo artista.

Encontramos no trabalho de André formas e cores do universo cotidiano de Ribeirão Preto em relação a releituras, transcriações e referências a artistas globais tais como Picasso e Basquiat.

Esse convívio de formas reorganiza, e porque não dizer, citando Oswald de Andrade, uma Antropofagia que produz um interesse ao olhar estrangeiro, daí, possivelmente, o trânsito profícuo de seu trabalho pelo universo Globalizado do mercado de arte de Nova York.

O processo de trabalho técnico de André passa por algumas etapas. As etapas do trabalho são a pré-produção, que por meio de um pré-projeto eletrônico segue para uma fase de construção que, segundo André, nasce de ações involuntárias, que vão resignificando esse corpo da obra elaborado anteriormente. Nesse momento de criação tudo pode acontecer, alterações na composição, trocas de lugar, etc, pois o processo parte de um princípio hibrido de construção de partes montando um todo. Do ponto de vista estritamente técnico e de materialidades, o seu trabalho, feito em adesivo, resulta da utilização de processos tecnológicos de impressão digital e de recorte eletrônico. A partir de um roteiro de desenhos,

feitos primeiro em papel e que, posteriormente, passam por scanner e processo de digitalização e manipulação, emergem as imagens e formas de uma obra que transcende a tecnologia de peças gráficas de publicidade. Esta união entre uma certa antropologia visual exótica aplicada à tecnologia, cria uma identidade muito poderosa e traz a superfície uma certa visualidade underground, composta por seres e objetos destacados do contexto da realidade do ambiente urbano de Ribeirão Preto. Essas formas, surgidas do imaginário de um artista de uma região do interior de São Paulo, que normalmente exibe maciçamente o lado cintilante da vida do consumo, acaba tendo no trabalho de arte a presença de tipos invisíveis, mas que são elementos da paisagem cultural da “Califórnia Brasileira”.

André é um artista da classe trabalhadora, onde a arte e o artista não têm um valor plenamente reconhecido, como profissional, como trabalhador, fora do âmbito da cultura de massas e da grande mídia. Esse traço da personalidade de André faz com que, como artista, ele veja a sociedade de forma mais ampla, sendo esse fator o cerne da riqueza de seu trabalho plástico.

Muitas das figuras são expressões de histórias subjetivas e parecem saídas de camadas não privilegiadas da sociedade, saídas de um mundo não oficial e percebido pelas camadas socialmente privilegiadas. Essas formas fazem emergir um conjunto de signos visuais que são parte da cultura apresentada como um sistema maior de correlação de forças, da convivência entre as diferenças de classe e de setores sociais, que convivem de forma desigual em uma região tão próspera como a de Ribeirão Preto.

A cultura canavieira, como expressão da monocultura agrícola da região, fenomenologicamente falando, produz, principalmente nas camadas populares, mas também nos privilegiados, uma monocultura social e antropológica. A mesma paisagem rural, do mar de cana, em oposição à paisagem sufocante da publicidade voltada para o consumo, inibe uma possível construção imaginária de outras formas de ver e de entender o mundo. É justamente aí que o trabalho do artista, e em especial o de André Costa, tem fundamental importância. É ao nutrir o imaginário das pessoas com sua visualidade libertadora, atraindo-as por meio do poder de persuasão da tecnologia, que a arte de André Costa dá um respiro as formas uniformizadas de imaginação e criatividade. André atua também como educador e cumpre muito bem seu papel de ampliar o acesso a arte e possibilitar a outras pessoas a oportunidade de se relacionar com a arte. André mostra que a poesia surge do trabalho e da dedicação de tempo e também da fé em uma forma de viver que é diversa do sistema castrador cotidiano,

do trabalhar e do consumir, em uma roda viva sem sentido. Isto acaba propiciando um trânsito entre o universo consumista das elites e o campo de ampliação do acesso à arte e a cultura a setores sociais menos favorecidos com seu trabalho. Essa é uma chave de percepção bastante relevante para compreender o trabalho de André Costa.

A arte como faculdade humana tem um papel fundamental de relativizar identidade e alteridade, apresentando modos de ver o mundo e de imaginar perspectivas para o futuro. No caso do trabalho de André Costa isso vai para Além da Tecnologia, uma vez que sua obra faz com que as ferramentas de produção e elaboração das mídias de comunicação visual se tornem arte e não publicidade e propaganda. Esta maneira estrutural de pensar, projetar e agir socialmente tem como resultado uma obra que possui uma consciência muito perspicaz entre o contexto cultural local do viver e a experiência artística em direção a uma cultura global.

As exposições “Poéticas do Resíduo I – Pesquisa”, apresentam um recorte atual dos resultados estéticos, procuras e estudos das ressignificações dos resíduos da indústria gráfica Brasileira, que estabelece uma interface profunda com a exposição “Poética do Resíduo II – Panorama”, que por sua vez, apresenta um recorte global da produção artística autoral, sendo estes dois momentos produtivos de fundamental importância dentro da compreensão didática da pesquisa, do processo de criação e de seus desdobramentos estéticos, contribuindo para o fortalecimento da cultura local e regional, valorizando artistas de nossa região, estimulando o público a um aprofundamento estético mais sensível dentro da produção artística contemporânea Brasileira.

Evandro Nicolau

Curador Independente

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